Em seu livro Disciplina - O Limite na Medida Certa, o sr. diz que a indisciplina é "o maior mal da educação moderna" e aponta maneiras de reestabelecer a disciplina, como uma arte do bem viver, na família e na escola. Como o sr. vê a discussão da disciplina, aos pés do século 21, quando temos um exemplo polêmico na Inglaterra, onde escolas que foram obrigadas por lei a extinguir castigos corporais disseram que iriam recorrer e pedir revisão da lei? O que difere o conceito de disciplina hoje do de antigamente?
Dr. Içami Tiba - Existe uma diferença fundamental entre autoritarismo e disciplina. Proponho uma forma disciplinar sem que haja uma relação vertical. Meu conceito de disciplina é baseado na religiosidade – que não quer dizer uma prática religiosa específica, relacionada a Deus, e sim gente que gosta de gente. Trata-se de uma composição. Essa religiosidade pode se manifestar até em quem é ateu, e serve, fundamentalmente para unir os seres, um grupo. Aquele que vai coordenar o grupo é o líder – aquele que vai puxar pelo interesse do grupo. Ninguém está acima do grupo e o líder é aquele que defende o grupo. Ele nunca pode colocar seu interesses acima dos do grupo e usar o poder para benefício próprio. A disciplina antiga era resultado do interesse individual do autoritário e dono do poder, em detrimento do grupo. E a disciplina atual é que cada um deve saber e cumprir seus deveres individuais, a partir da composição do grupo. Exemplo: o aluno que transgride a norma da classe pode prejudicar outro professor mas não a classe como um todo. Nessas alturas é que se vê a diferença entre o líder e o professor-salário. O que proponho com a disciplina é que todos funcionem de acordo com a saúde social. Na realidade a proposta dessa mudança está relacionada com a Teoria da Interação Relacional. Acho ridículo a imposição da força bruta. O viver social é o caminhar na velocidade do mais fraco. É outro modo de falar que a corrente arrebenta no elo mais fraco.
Neste novo milênio é preciso mudar o conceito saúde psíquica – não basta a pessoa ser equilibrada individualmente e sim é preciso que ela tenha saúde social, ou seja, deve saber que pertence a uma sociedade e que a sociedade é mais forte que ela como indivíduo. E que o indivíduo deve contribuir com a sociedade.
Quais são, na sua opinião, os maiores problemas causados pela indisciplina nas escolas e que reflexos isso vai ter na vida adulta dos indisciplinados?
Dr. Içami Tiba - Uma das piores coisas da indisciplina é a falta de organização interna do indivíduo. A pior conseqüência é a queda da qualidade de vida. Não só de si mesmo, mas de todas as pessoas que dele dependerem. Não dá para contar com os indisciplinados para atividades de responsabilidade – eles funcionam conforme manda sua indisciplina e não seus compromissos. Então, quando adulta a pessoa não conseguirá se adaptar a qualquer atividade pessoal ou profissional.
O sr. acha que a falta de disciplina nas escolas é responsável pelo declínio da qualidade do ensino? É possível o professor ser amigo do aluno, sem que este se torne um indisciplinado? Quais são os limites?
Dr. Içami Tiba - A falta de disciplina atrapalhou a vida das pessoas porque confundiram isso com liberdade. A disciplina é um ingrediente da liberdade. Não há meio termo. Para ter esta disciplina é necessário se voltar para a saúde social e não apenas para o bem estar pessoal. É necessária uma mudança radical, rumo a este conceito. Para esta mudança é necessário conhecimento. Os professores que desejam aplicar esse conhecimento precisam estudar. É a Teoria da Integração Relacional. Os pontos altos das minhas palestras são essas mudanças no conceito de disciplina. Os professores devem se capacitar – não há como fazer testes com alunos. É como um cirurgião, que não pode fazer testes com pacientes. O professor pode ser amigo com disciplina e inimigo com indisciplina. Os limites são os interesses do grupo.
Relate experiências vitoriosas vivenciadas por meio dos conceitos de disciplina propostos pelo sr.
Dr. Içami Tiba - Por exemplo, pense numa briga em escola. Um aluno machuca o outro. Não adianta o pai do que bateu pagar hospital para o machucado e a escola suspender o agressor. A melhor coisa é o que bateu cuidar de quem foi agredido: fazer curativos, acompanhá-lo junto aos médicos. Independente da idade dos alunos. O agressor vai ver, com clareza, o estrago que provocou vai tentar mudar seus métodos. Em família isso é muito interessante – as pessoas se redescobrem. É como alunos que têm uma doença e que querem ser médicos. Outra situação comum em casa é a criança que brinca e depois não quer guardar os brinquedos. Por quê? Porque os pais só dão o meio do processo – o brincar. A criança não cuida dos brinquedos e não quer guardá-los. Brincadeira tem começo, meio e fim. Para mudar isso, os pais devem ser duros. Na hora que a criança pegou o brinquedo deve ser avisada para arrumá-los depois de brincar – senão não vai brincar. O segundo passo é depois que ela brincou, fazê-la arrumar os brinquedos. Se não quiser arrumar, os pais têm de combinar o seguinte: sendo assim, terão de dar os brinquedos para uma criança carente. A criança precisa sentir que pode perder o brinquedo. Aprender um gesto de cidadão: o que não nos serve, serve para muita gente. Há crianças que têm de perder muitos brinquedos para aprender a valorizar.
Apesar dos avanços comportamentais deste século, problemas com drogas e gravidez na adolescência entre jovens de famílias de classe média e alta no Brasil se multiplicam. Então, tirando a problemática da falta de informação e recursos, onde estaria o principal erro dos pais e onde as escolas têm falhado nesses aspectos? O sr. defenderia a inclusão de uma matéria sobre comportamento em currículo, que abordaria esses temas em sala de aula?
Dr. Içami Tiba - Sobre gravidez precoce e drogas, a verdade é que nós estamos criando uma geração onde cada um faz o que lhe dá prazer – isso é errado. E os compromissos como ficam? O que vale é ter prazer sem medidas de conseqüências. O jovem de hoje foi educado para usar drogas – é por isso que dizem que o que eu falo é polêmico. Os pais também têm de fazer o que é correto – se ele usa drogas não pode exigir que o filho não use. "Uso cocaína e é meu direito", dizem alguns adultos. É uma mentira, que contraria o conceito de saúde social. Pais alcoólatras e drogados prejudicam a família, a sociedade. Não há como ser pai ou mãe sem estar capacitado para tal. A escola também tem de entrar nessa luta. Os pais estão jogando responsabilidades para os professores e a escola acha que não tem de educar nesse sentido. Defendo a educação a seis mãos. As da escola, do pai e da mãe – desde que sejam coerentes. Escolas têm de incluir trabalhos sobre relacionamentos humanos. O jovem deve saber que é natural ter tesão e que para isso não precisa necessariamente amar. Deve ser preparado para enfrentar situações da vida. Eles não sabem nem colocar uma camisinha. Eu fiz o manual da camisinha – ela tem de ser filosofia de vida. Os pais devem falar e conversar muito com os filhos sobre sexo e estudar sobre drogas – não é ler qualquer livro. Há aqueles que fazem apologia da droga, o que não é ético.
O sr. acha que o jovem pode ou não experimentar uma droga, para matar sua curiosidade? Essa justificativa deve ser aceita?
Dr. Içami Tiba - Acho que isso é mais uma falha. Ele não deve experimentar porque nem tudo que dá prazer deve ser experimentado. É a mesma coisa de experimentar uma roleta russa ou esportes radicais, porque o medo dá prazer. É arriscado e quase nunca compensa.
A mídia, principalmente a televisão, exerce uma influência forte sobre adolescentes com relação ao consumismo, a cultura do prazer pelo prazer, a erotização e a ausência de limites. Como o sr. aconselha educadores e pais a lidar e se contrapor a essa influência? Que papel a escola tem nesse sentido?
Dr. Içami Tiba - Acho que a mídia funciona assim porque tem mercado para isso que é oferecido. Ela não é muito culpada. Oferece o que é consumido. O consumo não é problema de uma pessoa e sim de todas as gerações. É uma questão social. É importante que cada família reaprenda a ver televisão. Esperar que a TV regule sua programação por sua ética é algo em vão. São empresas que visam lucro. Se o preço de um apresentador como o Ratinho cair é porque caiu a audiência. Casas onde cada um tem um aparelho de TV em seu quarto, multiplica a oferta para o consumo. Independentemente disso, cada família deveria ter uma visão crítica dos produtos e comportamentos oferecidos pela TV. A TV proíbe o diálogo, necessita da atenção visual do espectador. Mesmo assim, o costume de dialogar e trocar idéias deve ser alimentado na família – mesmo que seja sobre os programas assistidos. Não dá para ser uma sessão de ordens, onde os pais dão lições de moral e impõem seus pensamentos. Deve ser uma conversa gostosa, onde todos impõem seus pontos de vista. Os pais devem deixar os filhos falarem e falarem também. Assim estão ensinando que seus filhos devem aprender a pensar e a discutir, para usufruir da melhor maneira da informação e da globalização. As experiências devem ser compartilhadas. Isso fará os pais crescerem. O papel da escola entra em determinadas matérias, como estudos da atualidade brasileira, ou nos conteúdos transversais (assuntos vistos por diversas matérias em determinados ângulos). A TV seria um objeto de debate crítico em sala de aula. Por exemplo: o programa Você Decide. Para o jovem é importante ele ser participativo. Esse modelo de que o bom aluno é que aquele que absorve o que o professor fala, faz as lições, tira boas notas e não dá um pio é totalmente equivocado.
Como o sr. avalia a influência da internet na educação e formação do adolescente? O sr. está desenvolvendo estudos a respeito?
Dr. Içami Tiba - Acredito que internet é um grande ganho social e educacional, desde que se selecione a informação que se quer obter. Não importa a quantidade de informação, mas sim como se faz uso delas. Hoje em dia vale muito mais alguém que saiba aplicar bem conhecimentos específicos do que alguém com uma vasta quantidade de diplomas. Atualmente, valoriza-se a aplicabilidade da informação. No começo de contato com a internet é aquele turbilhão de informação. Com o tempo, as pessoas vão saber selecionar o que querem e porque querem. O que apavora os pais é quando eles não têm conhecimentos sobre isso. A internet passa ser vista como um bicho de sete cabeças – e simboliza perda do poder e do controle dos pais sobre os filhos. É importante que os pais estimulem os filhos a ensinarem para eles como se mexe na internet – é um dos princípios do livroEnsinar Aprendendo.
Qual é o maior trunfo do livro Ensinar Aprendendo? Fale sobre o conceito de ensino e suas mudanças nestes tempos de globalização.
Dr. Içami Tiba - Há um grupo de escolas em Brasília que me contratou para fazer um trabalho baseado no livro com os professores e os pais. O livro também está sendo adotado em escolas. Minha consultoria consiste em pegar as escolas no ponto em que estão para dar um direcionamento específico. No Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais muitas escolas estão seguindo meus estudos. É sinal de que, mesmo sem receitas fáceis, muitas instituições estão interessadas em mudar paradigmas. Desenvolvi meu trabalho levando a vida para a psicologia e daí para a sala de aula. Estou tornando os professores mais "psicologizados".
Na sua opinião e de acordo com sua experiência, porque as escolas brasileiras e professores têm aumentado seu interesse pela psicopedagogia?
Dr. Içami Tiba - Porque a pedagogia pura não funciona mais. O elemento relacional tem de entrar. Enquanto o adolescente não aceita uma pessoa, não aceita o que ela diz. Quando um burro fala o outro baixa a orelha e não escuta. O aluno que abre a boca, abre os ouvidos. Quando ele fala, se compromete, dá pistas do que pensa e por onde os professores podem ser melhor entendidos.
Em quase 30 anos de experiência com adolescentes e seus conflitos, quais foram suas maiores lições?
Dr. Içami Tiba - A minha maior lição é que meus melhores professores são os adolescentes. Quando comecei na psicologia, quase nada batia na prática com o que estava escrito a respeito. Até meu comportamento, quando adolescente, também não batia. Daí o desenvolvimento da biopsicologia social. Tabelei, por exemplo, que com 13 anos, o menino pode usar a rebeldia como autoafirmação. Consegui organizar a cabeça dos estudiosos sobre os adolescentes. Há várias etapas na adolescência. Assim, fica fácil focalizar o que é patológico ou não. Esse estudo fez com que as escolas reformulassem até alguns currículos, em decorrência do mau atendimento ao adolescente. Como educador mexo com a prevenção – mudando o conceito de saúde social. É o princípio da Integração Relacional. Essa teoria vem crescendo em mim há 10 anos.
Dr. Içami Tiba - Existe uma diferença fundamental entre autoritarismo e disciplina. Proponho uma forma disciplinar sem que haja uma relação vertical. Meu conceito de disciplina é baseado na religiosidade – que não quer dizer uma prática religiosa específica, relacionada a Deus, e sim gente que gosta de gente. Trata-se de uma composição. Essa religiosidade pode se manifestar até em quem é ateu, e serve, fundamentalmente para unir os seres, um grupo. Aquele que vai coordenar o grupo é o líder – aquele que vai puxar pelo interesse do grupo. Ninguém está acima do grupo e o líder é aquele que defende o grupo. Ele nunca pode colocar seu interesses acima dos do grupo e usar o poder para benefício próprio. A disciplina antiga era resultado do interesse individual do autoritário e dono do poder, em detrimento do grupo. E a disciplina atual é que cada um deve saber e cumprir seus deveres individuais, a partir da composição do grupo. Exemplo: o aluno que transgride a norma da classe pode prejudicar outro professor mas não a classe como um todo. Nessas alturas é que se vê a diferença entre o líder e o professor-salário. O que proponho com a disciplina é que todos funcionem de acordo com a saúde social. Na realidade a proposta dessa mudança está relacionada com a Teoria da Interação Relacional. Acho ridículo a imposição da força bruta. O viver social é o caminhar na velocidade do mais fraco. É outro modo de falar que a corrente arrebenta no elo mais fraco.
Neste novo milênio é preciso mudar o conceito saúde psíquica – não basta a pessoa ser equilibrada individualmente e sim é preciso que ela tenha saúde social, ou seja, deve saber que pertence a uma sociedade e que a sociedade é mais forte que ela como indivíduo. E que o indivíduo deve contribuir com a sociedade.
Quais são, na sua opinião, os maiores problemas causados pela indisciplina nas escolas e que reflexos isso vai ter na vida adulta dos indisciplinados?
Dr. Içami Tiba - Uma das piores coisas da indisciplina é a falta de organização interna do indivíduo. A pior conseqüência é a queda da qualidade de vida. Não só de si mesmo, mas de todas as pessoas que dele dependerem. Não dá para contar com os indisciplinados para atividades de responsabilidade – eles funcionam conforme manda sua indisciplina e não seus compromissos. Então, quando adulta a pessoa não conseguirá se adaptar a qualquer atividade pessoal ou profissional.
O sr. acha que a falta de disciplina nas escolas é responsável pelo declínio da qualidade do ensino? É possível o professor ser amigo do aluno, sem que este se torne um indisciplinado? Quais são os limites?
Dr. Içami Tiba - A falta de disciplina atrapalhou a vida das pessoas porque confundiram isso com liberdade. A disciplina é um ingrediente da liberdade. Não há meio termo. Para ter esta disciplina é necessário se voltar para a saúde social e não apenas para o bem estar pessoal. É necessária uma mudança radical, rumo a este conceito. Para esta mudança é necessário conhecimento. Os professores que desejam aplicar esse conhecimento precisam estudar. É a Teoria da Integração Relacional. Os pontos altos das minhas palestras são essas mudanças no conceito de disciplina. Os professores devem se capacitar – não há como fazer testes com alunos. É como um cirurgião, que não pode fazer testes com pacientes. O professor pode ser amigo com disciplina e inimigo com indisciplina. Os limites são os interesses do grupo.
Relate experiências vitoriosas vivenciadas por meio dos conceitos de disciplina propostos pelo sr.
Dr. Içami Tiba - Por exemplo, pense numa briga em escola. Um aluno machuca o outro. Não adianta o pai do que bateu pagar hospital para o machucado e a escola suspender o agressor. A melhor coisa é o que bateu cuidar de quem foi agredido: fazer curativos, acompanhá-lo junto aos médicos. Independente da idade dos alunos. O agressor vai ver, com clareza, o estrago que provocou vai tentar mudar seus métodos. Em família isso é muito interessante – as pessoas se redescobrem. É como alunos que têm uma doença e que querem ser médicos. Outra situação comum em casa é a criança que brinca e depois não quer guardar os brinquedos. Por quê? Porque os pais só dão o meio do processo – o brincar. A criança não cuida dos brinquedos e não quer guardá-los. Brincadeira tem começo, meio e fim. Para mudar isso, os pais devem ser duros. Na hora que a criança pegou o brinquedo deve ser avisada para arrumá-los depois de brincar – senão não vai brincar. O segundo passo é depois que ela brincou, fazê-la arrumar os brinquedos. Se não quiser arrumar, os pais têm de combinar o seguinte: sendo assim, terão de dar os brinquedos para uma criança carente. A criança precisa sentir que pode perder o brinquedo. Aprender um gesto de cidadão: o que não nos serve, serve para muita gente. Há crianças que têm de perder muitos brinquedos para aprender a valorizar.
Apesar dos avanços comportamentais deste século, problemas com drogas e gravidez na adolescência entre jovens de famílias de classe média e alta no Brasil se multiplicam. Então, tirando a problemática da falta de informação e recursos, onde estaria o principal erro dos pais e onde as escolas têm falhado nesses aspectos? O sr. defenderia a inclusão de uma matéria sobre comportamento em currículo, que abordaria esses temas em sala de aula?
Dr. Içami Tiba - Sobre gravidez precoce e drogas, a verdade é que nós estamos criando uma geração onde cada um faz o que lhe dá prazer – isso é errado. E os compromissos como ficam? O que vale é ter prazer sem medidas de conseqüências. O jovem de hoje foi educado para usar drogas – é por isso que dizem que o que eu falo é polêmico. Os pais também têm de fazer o que é correto – se ele usa drogas não pode exigir que o filho não use. "Uso cocaína e é meu direito", dizem alguns adultos. É uma mentira, que contraria o conceito de saúde social. Pais alcoólatras e drogados prejudicam a família, a sociedade. Não há como ser pai ou mãe sem estar capacitado para tal. A escola também tem de entrar nessa luta. Os pais estão jogando responsabilidades para os professores e a escola acha que não tem de educar nesse sentido. Defendo a educação a seis mãos. As da escola, do pai e da mãe – desde que sejam coerentes. Escolas têm de incluir trabalhos sobre relacionamentos humanos. O jovem deve saber que é natural ter tesão e que para isso não precisa necessariamente amar. Deve ser preparado para enfrentar situações da vida. Eles não sabem nem colocar uma camisinha. Eu fiz o manual da camisinha – ela tem de ser filosofia de vida. Os pais devem falar e conversar muito com os filhos sobre sexo e estudar sobre drogas – não é ler qualquer livro. Há aqueles que fazem apologia da droga, o que não é ético.
O sr. acha que o jovem pode ou não experimentar uma droga, para matar sua curiosidade? Essa justificativa deve ser aceita?
Dr. Içami Tiba - Acho que isso é mais uma falha. Ele não deve experimentar porque nem tudo que dá prazer deve ser experimentado. É a mesma coisa de experimentar uma roleta russa ou esportes radicais, porque o medo dá prazer. É arriscado e quase nunca compensa.
A mídia, principalmente a televisão, exerce uma influência forte sobre adolescentes com relação ao consumismo, a cultura do prazer pelo prazer, a erotização e a ausência de limites. Como o sr. aconselha educadores e pais a lidar e se contrapor a essa influência? Que papel a escola tem nesse sentido?
Dr. Içami Tiba - Acho que a mídia funciona assim porque tem mercado para isso que é oferecido. Ela não é muito culpada. Oferece o que é consumido. O consumo não é problema de uma pessoa e sim de todas as gerações. É uma questão social. É importante que cada família reaprenda a ver televisão. Esperar que a TV regule sua programação por sua ética é algo em vão. São empresas que visam lucro. Se o preço de um apresentador como o Ratinho cair é porque caiu a audiência. Casas onde cada um tem um aparelho de TV em seu quarto, multiplica a oferta para o consumo. Independentemente disso, cada família deveria ter uma visão crítica dos produtos e comportamentos oferecidos pela TV. A TV proíbe o diálogo, necessita da atenção visual do espectador. Mesmo assim, o costume de dialogar e trocar idéias deve ser alimentado na família – mesmo que seja sobre os programas assistidos. Não dá para ser uma sessão de ordens, onde os pais dão lições de moral e impõem seus pensamentos. Deve ser uma conversa gostosa, onde todos impõem seus pontos de vista. Os pais devem deixar os filhos falarem e falarem também. Assim estão ensinando que seus filhos devem aprender a pensar e a discutir, para usufruir da melhor maneira da informação e da globalização. As experiências devem ser compartilhadas. Isso fará os pais crescerem. O papel da escola entra em determinadas matérias, como estudos da atualidade brasileira, ou nos conteúdos transversais (assuntos vistos por diversas matérias em determinados ângulos). A TV seria um objeto de debate crítico em sala de aula. Por exemplo: o programa Você Decide. Para o jovem é importante ele ser participativo. Esse modelo de que o bom aluno é que aquele que absorve o que o professor fala, faz as lições, tira boas notas e não dá um pio é totalmente equivocado.
Como o sr. avalia a influência da internet na educação e formação do adolescente? O sr. está desenvolvendo estudos a respeito?
Dr. Içami Tiba - Acredito que internet é um grande ganho social e educacional, desde que se selecione a informação que se quer obter. Não importa a quantidade de informação, mas sim como se faz uso delas. Hoje em dia vale muito mais alguém que saiba aplicar bem conhecimentos específicos do que alguém com uma vasta quantidade de diplomas. Atualmente, valoriza-se a aplicabilidade da informação. No começo de contato com a internet é aquele turbilhão de informação. Com o tempo, as pessoas vão saber selecionar o que querem e porque querem. O que apavora os pais é quando eles não têm conhecimentos sobre isso. A internet passa ser vista como um bicho de sete cabeças – e simboliza perda do poder e do controle dos pais sobre os filhos. É importante que os pais estimulem os filhos a ensinarem para eles como se mexe na internet – é um dos princípios do livroEnsinar Aprendendo.
Qual é o maior trunfo do livro Ensinar Aprendendo? Fale sobre o conceito de ensino e suas mudanças nestes tempos de globalização.
Dr. Içami Tiba - Há um grupo de escolas em Brasília que me contratou para fazer um trabalho baseado no livro com os professores e os pais. O livro também está sendo adotado em escolas. Minha consultoria consiste em pegar as escolas no ponto em que estão para dar um direcionamento específico. No Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais muitas escolas estão seguindo meus estudos. É sinal de que, mesmo sem receitas fáceis, muitas instituições estão interessadas em mudar paradigmas. Desenvolvi meu trabalho levando a vida para a psicologia e daí para a sala de aula. Estou tornando os professores mais "psicologizados".
Na sua opinião e de acordo com sua experiência, porque as escolas brasileiras e professores têm aumentado seu interesse pela psicopedagogia?
Dr. Içami Tiba - Porque a pedagogia pura não funciona mais. O elemento relacional tem de entrar. Enquanto o adolescente não aceita uma pessoa, não aceita o que ela diz. Quando um burro fala o outro baixa a orelha e não escuta. O aluno que abre a boca, abre os ouvidos. Quando ele fala, se compromete, dá pistas do que pensa e por onde os professores podem ser melhor entendidos.
Em quase 30 anos de experiência com adolescentes e seus conflitos, quais foram suas maiores lições?
Dr. Içami Tiba - A minha maior lição é que meus melhores professores são os adolescentes. Quando comecei na psicologia, quase nada batia na prática com o que estava escrito a respeito. Até meu comportamento, quando adolescente, também não batia. Daí o desenvolvimento da biopsicologia social. Tabelei, por exemplo, que com 13 anos, o menino pode usar a rebeldia como autoafirmação. Consegui organizar a cabeça dos estudiosos sobre os adolescentes. Há várias etapas na adolescência. Assim, fica fácil focalizar o que é patológico ou não. Esse estudo fez com que as escolas reformulassem até alguns currículos, em decorrência do mau atendimento ao adolescente. Como educador mexo com a prevenção – mudando o conceito de saúde social. É o princípio da Integração Relacional. Essa teoria vem crescendo em mim há 10 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário